Por Alan Caldas (Editor) / Na foto: Alan, Renato e Ricardo
Quando os alemães chegaram no Brasil, eles vieram em famílias. E isso proporcionou o surgimento de comunidades. De igrejas. De escolas. E de sociedades onde as pessoas pudessem se encontrar com os demais imigrantes.
Para facilitar e organizar os encontros, os alemães fundaram clubes e sociedades. E nessas sociedades surgiam os clubes de bolão, os de canto, os de ginástica e os de tiro, tradições que são todas praticamente alemãs.
Dois Irmãos era uma pequenina vila quando, 126 anos atrás, foi fundada a Sociedade Atiradores no dia 1º de março de 1897. A história nos conta que ela surgiu pela liderança do senhor Jacob Schmitt. Em acordo com seus amigos, o Herr Jacob decidiu criar uma Schützenverein, a Sociedade Atiradores para incentivar a prática do tiro com carabina apoiada.
Junto a essa sociedade de atiradores surgiriam, em paralelo dentro da sociedade, outras atividades. Entre elas, as canchas de bolão, esporte apreciadíssimo pelos alemães.
Com as canchas vieram os grupos de bolão. Inicialmente de homens. Mais tarde de mulheres. E depois os grupos mistos. Seus integrantes eram pessoas adultas e a característica que as unia era o fato de que falavam ainda 100% alemão. Alemão era a língua oficial de Dois Irmãos.
Esses grupos se reuniam na Sociedade Atiradores em dias específicos. Tinha a turma das terças. A das quartas. E assim por diante. E, em grande alegria e algazarra, se encontravam para praticar seu esporte favorito, que era o bolão.
Numa das tardes deste último Kerb, me encontrei na avenida São Miguel com meus amigos Ricardo Scholl e Renato Dexheimer. Era dia de alegria. E de lembranças. Conversa vai. Papo vem. Eles falaram de um grupo de bolão que existiu na Atiradores, lá no início dos anos de 1970. Era o Grupo de Bolão “Os Corujas”.
Diferente dos demais grupos da cidade, Os Corujas eram todos jovens. Beiravam entre 18 e 30 anos, se muito, e eram estudantes. Alguns trabalhavam. Outros não. Mas queriam se divertir e jogar bolão. E, para garantir que teriam seu horário garantido, eles escolheram como “seu dia” na cancha de bolão da Atiradores as noites de sexta-feira.
Os grupos eram identificados por nomes. E que nome dar ao grupo, eles se perguntaram? Todo grupo deveria ter um nome. Ninguém lembra quem deu o nome. Ao que parece, o nome surgiu como que por geração espontânea, entre os amigos. E eles passaram a ser conhecidos de “Os Corujas”.
O nome era, de fato, por uma razão óbvia: eles entravam na cancha de bolão às 22 horas e só saíam na madrugada, lá pelas duas ou três horas da manhã. E quem fica sempre ativo na madrugada é a coruja.
Praticamente todos eles vinham da escola direto para a Atiradores, a fim de jogar bolão. E eram organizados: tinham inclusive tesoureiro, que no caso era o Renato Dexheimer.
Pelo tanto de brilho que vi nos olhos do Ricardo e do Renato enquanto eles falavam desse grupo, certamente Os Corujas deixou uma linda marca positiva na alma de quem o integrava.
Faziam parte do grupo, além do Ricardo Scholl e do Renato Dexheimer:
Renato (que trabalhava no escritório Roseli)
Heitor Weber
Pitt Wendling
Gilberto Henrich
Cláudio Dexheimer
João Dario Wendling
Ari “Magrão” Nienow
Ricardo Wirth
Ariberto “Alemão” Wendling
Mário Bender
Paulo Vicente Bender
Neori Quinho Brandt
Leonardo “Batata” Wendling
Belmiro Kraemer
Cristovão “Hess” Feiten e
Hélio Koch, entre outros.
Infelizmente, por mais que me esforçasse não consegui todos os nomes dos integrantes desse grupo histórico. Se você souber de outros, publique no seu comentário nas mídias sociais do Jornal Dois Irmãos, quando esta reportagem chegar lá.
O grupo Os Corujas assim que surgiu logo se destacou. E como eram todos jovens, e jovem gosta de movimento, assim eles acabaram se integrando com grupos de outras cidades, como Santa Cruz, Teutônia, Picada Café, Porto Alegre e outras localidades.
As noites do grupo eram de bolão. De muita conversa entre amigos. E de festa. A comida não era muita. Um sanduíche, se muito, e já bastava. Nada de jantares. Mas eram sem dúvida noites regadas sempre por muita cerveja Brahma, a bebida preferida e que fazia enorme sucesso entre aquela turma de jovens.
A cidade ainda era pequena, e fora a avenida São Miguel, onde estava e ainda está a Sociedade Atiradores, havia poucas ruas calçadas. Pelas ruas daquela Dois Irmãos os veículos que se via eram Fusca, DKW, Gordini, Sinca Chambord e Kombi. Não havia muitos carros na cidade. E a maioria dos integrantes do grupo não tinha carro. Só um ou outro, entre os mais velhos. Os demais iam e vinham a pé.
Não se sabe ao certo o dia que o grupo começou. Nem se sabe a data em que terminou. Mas durou em torno de dez anos, quando aqueles animados jovens foram assumindo responsabilidades de adulto.
Infelizmente não temos um registro fotográfico do grupo. Mas uma coisa é certa: todos que integravam Os Corujas tornaram-se homens de grande importância e destaque em nossa cidade. Alguns deles já nos deixaram, infelizmente, porque para alguns a vida é mais curta. Mas a maioria deles segue aqui, firme e forte, alegre e colaborando com a história de progresso e desenvolvimento que sempre caracterizou esta nossa adorável cidade de Dois Irmãos.