Por Alan Caldas (Editor)
Dia desses tocou o telefone. Atendi: “Alô!” E, do outro lado, ouço uma voz grave e séria: “É o Alan?”
– Sim. Quem fala?
– Aqui é o Hélio Ritter. Da prefeitura. Estou ligando para avisar que o teu CARTÃO DE VELHO já chegou...
Fez-se um segundo de silêncio e então desandei a rir.
– “Cartão de veeeelho???” Pô, amigo Hélio. Peeelo amor de Deus: cartão de velho!!!
Aí o Hélio começou a rir do outro lado. E eu daqui. Eram gargalhadas dos dois lados.
E o pior é que veio um e-mail aqui para o Jornal Dois Irmãos e o pessoal não me largava mais do pé:
– Então pediu Cartão de Idoso, hein chefe?
Tive de dar longas explicações. Disse que teria “direito” ao tal do “cartão de velho” com 60 anos, para estacionar. Mas, me defendendo, falei que haviam se passado 6 anos e só agora, aos 66, é que pedi o tal cartão. E disse que só pedi porque tenho ido seguido a Porto Alegre e lá falta estacionamento normal e sobra de “idoso”. Daí ter pedido o cartão. E blá, blá, blá.
Mas, por mais que me explicasse, a gozação continuava. “Velho, hein? Kkk ...”, me diziam, sorrindo e sem a menor pena dos “idosos”...
Pensa em alguém que se arrependeu de pedir algo que a lei lhe garante. Esse fui eu.
Fiquei tão traumatizado que, desde então, mesmo tendo o “cartão de velho” sempre saio em busca de um estacionamento que não seja de “idoso”.
E, aliás, pode parecer loucura, mas depois que peguei aquele bendito cartão, notei que estou mais cansado. Que ando menos disposto. Noto que já não me funcionam bem os ouvidos. Até reparei que estou ficando “esquecido” de coisas que antes não esquecia. E por nada ou muito pouco, já fico ranzinza com qualquer coisinha. Também percebi que me dói aqui, me dói ali. Minha vida virou um purgatório, depois daquela ligação com voz sorumbática do Hélio me dizendo “Alan, chegou teu cartão de velho”.
Concluo que tudo isso que agora sinto “só pode” ser um efeito colateral daquele “cartão de velho”. Não deve ser pelos 66 anos. Não é o passado que está vindo à tona. Óbvio que não. É claro que não. É o cartão de velho. Sem dúvida. Só pode ser esse cartão de velho. Maldita hora em que pedi aquilo...