Por Padre César Worst*
Acabo de ler a reportagem de um jornal de Novo Hamburgo, que entrevistou meu irmão em Cristo e amigo de muitos, André Wobeto (foto), sacerdote fora do uso de ordens. A sua bondade, sua disponibilidade em atender as pessoas, sua paciência e outras virtudes, ficarão no histórico de sua vida e marcam a vida de outras tantas pessoas.
São inúmeros os pedidos de Jesus a respeito do perdão ilimitado, da compreensão, do não julgamento. Poderíamos chegar à exaustão de tantas citações bíblicas. Mais ainda, toda a Sagrada Escritura é expressão de um Deus que quer fazer aliança de amor com seu povo, que espera do ser humano a imitação da misericórdia divina.
Assim como não julgo casais que eventualmente optam pela separação, (uma triste, porém real situação), também não podemos entrar na intimidade da consciência (sacrário inviolável do ser humano) e julgar sem considerar sua história e luta.
A atitude sincera e corajosa do ex-Padre André Wobeto, é um exemplo em si. Não escolheu viver uma vida dupla. Reconheceu seu erro, foi à autoridade competente e pediu livremente o “não exercício do sacerdócio”. Isso não significa que está apto ou querendo casar. Isso é outra história. O que ele fez foi um gesto de grandeza: não viver uma duplicidade de vida. Por essa atitude, meus respeitos ao irmão. Assumiu as conseqüências do seu erro.
Por outro lado, nada tem a ver com um questionamento das razões pelas quais a Igreja convida para ser sacerdote somente homens que livremente assumem o celibato por amor ao Reino dos Céus. Não faz sentido. Por que o modo de vida celibatário é fonte de realização afetiva tanto quanto o modo de realização matrimonial. A questão não é casar, a questão é amar.
Pense o leitor - ao menos em hipótese -: seria legítimo abolir a instituição do casamento tendo como motivo as infidelidades matrimoniais? Não! Assim também, pela fraqueza das paixões, não vamos anular o celibato. Mesmo porque, nós não temos autoridade para isso. Tanto o casamento como o celibato são instituições divinas. (basta lembrar que Jesus foi celibatário). De fato, o “não casar dos padres” é um dom divino, uma proposta da Igreja e uma correspondência humana.
O que me faz escrever é pedir aos cristãos católicos que exerçamos a misericórdia. Não somente com este caso, mas com toda pessoa que em algum momento da sua vida tenha errado. Misericórdia é etimologicamente: “entrar na miséria do coração alheio”. Como fazê-lo? Indo ao encontro, acolhendo, conversando, rezando pela pessoa, estendendo a mão para ajudar. Tratar o outro, como gostaríamos de ser tratados.
Os padres erram? Sim!
“Quem não tiver pecado, atire a primeira pedra”, disse Jesus. Pois bem: existem erros e erros. Alguns têm consequências. E que todos sejamos coerentes, valentes para nunca, em nenhuma hipótese, viver uma “vida dupla”. E, infelizmente, há sinais de duplicidade também entre cristãos e, claro, também entre o clero. Deus nos livre do farisaísmo.
Obrigado Pe. Wobeto, por sua coerência!
(*) Pe. César Augusto Worst é pároco de Morro Reuter - RS