Por Alan Caldas (Editor)
Volnei Luiz Mellara é filho de Caetano Melara e de Aurora Sandi Melara, e teve seis irmãos: Lourdes, Ivone, Darvi, Dilse, Delci e Marilene.
Nasceu em 28 de janeiro de 1949, no hospital de São Marcos, e escapou de morrer no dia do nascimento. No parto amarraram mal o cordão umbilical e se a mãe não visse que ele estava perdendo a cor e imediatamente chamasse as atendentes, ele teria partido.
Ficou órfão de mãe muito cedo. Acometida de insuficiência renal, dona Aurora faleceu aos 42 anos, quando ele tinha apenas 5. As duas lembranças que tem dela é uma de ela lhe pedindo prendedores para colocar roupas no varal e, a outra, é ela sendo velada em casa e o pequeno Volnei ali, quietinho, olhando a querida mãe naquele caixão.
Aos 7 anos entrou na escola de Freiras em São Marcos, para cursar o Primário e parte do Ginásio em meio a uma das mais típicas comunidades italianas do Rio Grande do Sul. No segundo ano do 2º Grau foi para Caxias do Sul, onde serviu o Exército no 3º Grupo de Canhões Antiaéreos e estudou à noite na escola Cristovão de Mendonça, para concluir o 2º Grau.
Ao sair do quartel voltou a São Marcos e com o pai e a irmã Marilene abriu o Supermercado Melara. Ficou até ser aprovado em 2º lugar para Odontologia, na Faculdade Federal de Pelotas. Se mudou em 1972 e lá estudou e morou em um apartamento com 4 colegas de São Marcos.
O dinheiro era pouco, e para aliviar as contas ele concorreu a uma vaga remunerada no departamento de bioquímica. Passou. E assumiu como Monitor na Universidade.
No 6º semestre do curso se inscreveu e foi aprovado para participar do projeto Randon, na cidade de Cáceres, no Mato Grosso. De lá foi para Jauru, na divisa com a Bolívia, e ali teve uma grande experiência odontológica. Junto com um capitão dentista ele atendeu uma comunidade inteira num sistema precário. As cadeiras de campanha eram montadas na hora e as cuspideiras eram em latas de querosene com água e creolina. O material cirúrgico, porém, era muito bom, e em 10 dias os dois extraíram 430 dentes.
No 4º semestre da faculdade apareceu em Pelotas um profissional que o convidou para trabalhar em parceria no consultório. A proposta era espetacular, pois 40% de tudo que Volnei fizesse ficaria para ele, e a partir dali a vida financeira melhorou muito.
Bom italiano que é, Volnei poupou o dinheiro ganho na monitoria e nesse consultório e ao sair da faculdade comprou um Fusca branco do irmão dele. Foi seu primeiro carro. A habilitação ele já havia feito no Exército.
Se formou no dia 4 de dezembro de 1976. E veio para Dois Irmãos por informação de uma colega, que o avisou de que aqui havia vaga para dentista no Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Se formou no dia 4 e no dia 18 já estava atendendo pelo sindicato em Santa Maria do Herval e Boa Vista. Ainda era solteiro. Alugou um quarto da família Killing, na avenida 10 de Setembro, e fazia as refeições no Restaurante Plínio Nienow.
Italiano, jovem e bem-falante, Volnei fez amizades e passou a integrar o clube de futsal Os Queridos, ocupando a posição de goleiro. Também logo se enturmou com umas garotas com as quais passou a jogar vôlei. Ele sempre foi do esporte. Durante a faculdade treinou karatê e, posteriormente, taekwondo.
Em Dois Irmãos inicialmente ele atendia no Sindicato, mas 4 meses depois abriu seu próprio consultório em uma sala de Bruno Lampert, na avenida São Miguel, 982, onde ficou por quase 10 anos.
Certo dia e querendo dar flores para a Silvana, ele visitou a florista da cidade, senhora Walesca Kolling, e ela lhe falou que queria vender o terreno ao lado da sua casa. Não queria dinheiro e sim uma troca por área construída. Volnei chamou os amigos médicos Rui Klein, Alexandre Tennenbaum, Delano Schmitz, Roberto Duris e Arthur Sbroglio e sugeriu abrir uma Clínica naquele local. Fecharam o negócio. A obra foi concluída em 1997 e desde então ali está o consultório do doutor Volnei Melara.
É difícil um italiano que não seja bem-falante e bom na cozinha, e Volnei não foge à regra. Cozinhar e conversar com amigos é com ele mesmo. Em vista disso, 35 anos atrás foi membro fundador da Confraria Fratelli, que sugeriu o nome, com os amigos Paulo Vicente Bender, Gilberto Chepa Schaffer, Gilberto Henrich, Arthur Sbroglio, Pedro Gassen, Antônio Sátyro e Carlos Gregorius.
Volnei veio morar em Dois Irmãos em 1976, mas a alma dele continuava residindo em São Marcos. Ele ia para lá todo final de semana e numa dessas ele chegou lá para ir a um baile em que precisava usar gravata. Mas ele não sabia dar o nó e foi na casa de um amigo pedir ajuda. Chegando lá entrou na sala e quase teve uma parada cardíaca. “Vi uma linda mulher sentada no sofá”, diz ele, arregalando os olhos e sorrindo. Era a Silvana Conci, uma caxiense pela qual ele se encantou. Mas ela estava ali porque os amigos queriam apresentá-la a um outro amigo deles. E Volnei levou um banho de água fria.
No baile, porém, ele não conseguia disfarçar, e o tempo todo só olhava para a Silvana. Ao final aquele amigo foi embora, então o Volnei foi conversar com ela. E mais que depressa avisou que na semana seguinte voltaria a São Marcos e “se ela quisesse” ele passaria por Caxias e lhe daria uma carona. Ela aceitou. Era 1977. E nunca mais se separaram. O namoro começou e um tempo depois os amigos insistiam para que ele noivasse. Durante um baile o Volnei disse aos amigos:
– Olha, cara, eu só não fico noivo HOJE porque ainda não temos alianças.
Você acredita em Cupido? Há quem acredite. E quem não. Mas havia naquele baile um rapaz que era ourives e olha só o que aconteceu: ao saber que o Volnei dissera aquilo, esse ourives pegou a aliança dele e a da noiva e foi até a mesa do Volnei. Chegando lá ele colocou a aliança dele no dedo do Volnei e a da namorada dele no dedo da Silvana. E disse: “pronto, alianças vocês já têm”. Então foi até o palco, pediu o microfone e informou à comunidade de São Marcos que a Silvana e o Volnei a partir daquele momento estavam oficialmente noivos. Foi um aplauso geral.
Casaram na Catedral São Pelegrino, em Caxias do Sul, em meio as obras de arte do famoso escultor italiano Aldo Locatelli. A festa foi em São Marcos e vivem em felicidade e parceria. Tiveram duas filhas: a Cláudia, que lhes deu os netos Leonardo e Luísa, e a Roberta, que lhes deu a neta Ana Clara. E as duas filhas seguiram o caminho do pai, sendo ambas respeitadas odontólogas em Dois Irmãos.
Volnei tem 1,80m, pesa 87 quilos, calça 41 e seu tipo sanguíneo é A+. Descende de italianos e conseguiu cidadania italiana para toda a família. É caçador inveterado, e faz isso há mais de 50 anos. Viajou para mais de 20 países acompanhado da esposa. Em 1994 fez pós-graduação em Dentística Restauradora e Silvana foi tão fundamental no auxílio em pesquisas e traduções, que ao receber o canudo o doutor Volnei apontou para ela e disse: “metade é teu”.
Gosta de música. Toca violão. Bebe vinho. É ligadíssimo à família, “que é quem me faz feliz”. Dorme 8 horas. E sonha colorido. Colocou duas próteses, uma em cada ombro. Tem relação complicada com a tecnologia. É pouco organizado em casa, mas profissionalmente é perfeccionista. Viu que seria odontólogo ainda menino. Em São Marcos ele passava pelo consultório de um dentista e de uma fresta pela janela ele olhava, admirava e pensava: “acho que essa é uma ótima profissão”. E era mesmo. Em 2026, daqui 3 anos, feliz com a escolha que fez, Volnei completará meio século trabalhando nela.