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Faz um tempo, eu ainda dava bola para futebol.
Pandemia, meu time na série B, profissionalismo de cifras astronômicas e indecentes a cada 30 dias me fizeram repensar minhas preocupações, principalmente meu tempo. Nada contra a paixão de muitos, apenas uma adequação ao tamanho real de cada coisa.
Futebol é um jogo: para alguns, de interesse; para outros, um alento em meio a rotinas adversas. A essência do esporte merece ser cultivada e compartilhada de forma saudável, sem extrapolar a noção das verdadeiras vitórias e derrotas da vida. (Meio piegas, admito.)
Meu tosco preâmbulo é tão somente para dizer que a Copa já não me empolga nem emociona como outrora. Será um divertimento bacana assistir a grandes jogos dia sim, outro também na reta final deste ano que, como tantos, passa apressado, quase tropeçando no calendário. Um ótimo pretexto para reunir os amigos e a família, para confraternizar com boa comida e fazer valer o que realmente importa. (Olha aí eu me animando...)
Por falar em Copa, algumas curiosidades:
– A Copa do Catar terá a cerveja mais cara da história: R$ 73 – 50 riais catarianos, ou 14 dólares – o copo de meio litro. O valor em dólares mais que dobrou em relação à Copa da Rússia (US$ 6, ou R$ 21 no câmbio da época). Além disso, haverá limite de quatro copos por torcedor, para evitar excessos.
– Ao contrário das edições anteriores, em 2022 o consumo de cerveja será proibido dentro dos estádios, a não ser nos camarotes.
– O interior da bola oficial tem um sensor esférico sustentado por um sistema de cordas. Alimentada por uma bateria recarregável, que pode ser carregada por indução, a nova tecnologia envia dados 500 vezes por segundo indicando a localização em campo, o que promete diminuir a demora do VAR. O nome, Al Rihla, significa A jornada em árabe.
– O Catar fica na Ásia Ocidental, envolvido pelo Golfo Pérsico. Tem a metade do tamanho de Sergipe, que é o menor estado brasileiro, e menos de 3 milhões de habitantes – 75% são estrangeiros, oriundos principalmente de outras nações árabes.
– É um dos países mais ricos do mundo e com umas das menores cargas tributárias. Sua riqueza advém da exploração de petróleo e gás natural.
– Localizado numa região desértica, suas temperaturas ao longo do ano vão de 14°C a 45°C – os dias mais amenos concentram-se entre dezembro e março, com média de 26°C.
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Por aqui, vamos curtir a Copa no calor também, mas pelo menos com cerveja mais barata...
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INSTANTE NA ESTANTE
De resto, sua paixão infligia-lhe todas as dores e proporcionava-lhe todas as alegrias que esse estado acarreta em toda parte e em todas as circunstâncias. A dor é pungente; contém um elemento degradante, como toda dor, e representa tamanho abalo do sistema nervoso que embarga a respiração e é capaz de arrancar de um homem adulto lágrimas amargas. E para também fazermos justiças às alegrias – estas eram numerosas, e, ainda que nascessem de motivos insignificantes, não menos intensas que as mágoas. Por exemplo: prestes a entrar na sala de refeições, Hans Castorp nota atrás de si o objeto de seus sonhos. O resultado é conhecido de antemão, e de simplicidade extrema, mas encanta a alma com aquela mesma força que faz brotar as lágrimas. Os olhos de ambos, próximos, encontram-se: os dele e os glaucos olhos dela, cuja forma e posição levemente asiáticas apoderam-se dele com sua magia, até a medula. Ele já não tem consciência, mas mesmo assim dá um passo para o lado, a fim de deixar livre a passagem pela porta. Com um meio sorriso e um “merci” pronunciado em voz baixa, ela aceita seu oferecimento não mais que cortês, passa por ele e atravessa o limiar. Ei-lo na aura da personalidade que acaba de roçá-lo, louco pela felicidade que lhe causam a coincidência e o fato de uma palavra da sua boca, esse merci, ter-se dirigido direta e pessoalmente a ele.
A montanha mágica – Thomas Mann (1875-1955)