Por Alan Caldas – Editor
Esta estória quem me contou foi o doutor Jorge Bucay, um argentino Mestre em estórias da conduta humana.
É um conto sobre Badwin, o mais sábio dos sábios árabes.
Badwin estava em sua tenda quando chegou um viajante em seu elegante camelo. Esse viajante disse a Badwin, o sábio, que estava ali em busca da sabedoria dele.
Disse que havia viajado por muitos lugares. Que tinha estado com todos os outros sábios que existiam. Chegará, então, finalmente, disse ele, a hora de encontrar Badwin, o sábio dos sábios.
Disse que já havia aprendido tudo com os outros e acreditava que só lhe faltava mesmo conhecer agora a sabedoria de Badwin. E com mais esse conhecimento ele chegaria a iluminação.
Queria que o sábio lhe ensinasse o que sabia, a fim de ele, que já quase tudo sabia, completasse seu conhecimento e finalmente se tornasse um Ser iluminado.
Sem dizer nada, Badwin lhe entregou uma xícara e o convidou a compartilhar um chá.
O viajante ficou maravilhado. O grande Badwin tomaria chá com ele. Certamente já havia reconhecido grandes conhecimentos nele. Pegou a xícara e logo a estendeu para que Badwin servisse o chá.
Badwin pegou a chávena e começou a derramar o chá lentamente na xícara do viajante, que não parava de falar sobre seus conhecimentos, seus feitos, suas andanças pelo mundo, seus encontros com grandes Mestres e sábios, suas proezas.
Enquanto ele falava, Badwin seguia servindo o chá e a xícara do viajante foi ficando cheia. E mais cheia. E mais cheia. Até que começou a derramar. E a derramar.
O viajante disse que a xícara já estava cheia e que Badwin poderia parar de colocar o chá. Mas o sábio continuava colocando chá e o chá continuava caindo da xícara já completamente cheia.
O viajante puxou a xícara para que Badwin parasse de colocar chá. E, então, o sábio lhe disse:
– Essa xícara é você. Tão cheio de conhecimento que já não tem espaço para mais nada.
E olhando amorosamente para o viajante, lhe disse:
– Vá esvaziar-se um pouco e depois volte aqui. O ser humano, assim como uma xícara, só consegue receber mais “chá” se ainda tiver espaço dentro de si.
Quando a vaidade superlota a mente, ela nada mais consegue aprender, disse Badwin. E mandou o viajante pegar a estrada e ir embora.
*
Fiquei pensando no que o doutor Jorge Bucay me dizia. Imaginei quantas vezes deixamos de aprender a viver melhor, a sermos mais leves, mais humildes e a sorrir mais feliz, justo porque a vaidade de acreditarmos que sabemos “tudo” nos impede de ver e viver uma outra e mais bondosa, humilde e grandiosa realidade.