Atos impensados que começam mal e terminam pior
Diariamente pessoas cometem atos impensados. As bobagens nossas do dia a dia.
Tenho um caso verídico sobre isso. É este:
Meses atrás, ali em Lomba Grande, um distrito rural de Novo Hamburgo, uma turma de conhecidos estava num bar. Uns jogando. Uns conversando. Alguns bebendo. Essas coisas. Então, entra um homem que normalmente ia por lá mas que, nas últimas semanas, não estava comparecendo.
Ele entra. Cumprimenta todo mundo daquela forma clássica, o “oi pessoal”, e vai para o balcão. Pede uma bebida e fica ali.
Lá do fundo, um dos conhecidos lhe pergunta:
- Ué, não tens mais aparecido por aqui. Aconteceu alguma coisa contigo?
O sujeito ia responder. Mas aí um desses famosos enchedores de saco que sempre tem no grupo, se atravessa na pergunta e responde por ele:
- Não vem porque a mulher não deixa. É mandado pela mulher.
O cara, que até então nunca havia se irritado com alguém naquele ambiente, dessa vez se irrita. Sabe-se lá porque, mas desta vez ele não gostou da brincadeira do sujeito. E, por não gostar, devolveu o osso, mandando o metido enfiar a opinião dele.
O metido era um desses caras grandes e encrenqueiros, e igualmente não gosta do que o ofendido lhe disse. Começa uma discussão entre eles.
O cara recém-chegado e ofendido firma pé no que disse. E sustenta, lançando outros impropérios para cima do chato. O chato, que tinha fama de encrenqueiro por ser grandão, se levanta e vai até ele, para brigar. O ofendido não deixa por menos. Não se intimida. Arranca uma faca que levava na cintura e salta em cima do grandão. As cadeiras voam para os lados. As mesas são empurradas para os cantos. Todos que estavam no local recuam, assustados, pois briga de faca é coisa feia. E eles ficam ali, nesse vai e vem, um sarandeando o outro e a faca assustadoramente riscando os ares, louca para fazer o trabalho dela.
Um baixinho que estava por ali e até então tomava uma cerveja no canto, resolve se interpor entre os dois que estavam brigando. Ele conhecia os dois caras e numa atitude de apaziguamento resolve dar uma de “deixa-disso”. E vai apartar a briga.
“Vamos parar com isso, pessoal”. E blá, blá, blá, tentando empurrar um para lá, outro para cá.
Mas a adrenalina dos dois já está lá em cima. Eles querem rinha. E o baixinho, de boa-fé, tentando acalmar a contenda que poderia terminar em morte segue tentando ser um bom samaritano.
O ofendido, entre um “deixa-disso” e outro, não gosta daquilo e pede que o baixinho não se meta. Mas ele continua se metendo. E o baixinho é mais novo que ele. Então, no meio daquela confusão, o ofendido tentando tirar o baixinho do meio do negócio, grita para ele:
- Não te mete, piá de merda!!!
O baixinho se ouriça com o grito. Não gostou da ofensa. E como estava com um copo cheio de cerveja, num ato impensado (pois estava querendo apartar uma briga de faca) perde as estribeiras e joga o copo de cerveja na cara do ofendido, que tinha sido chamado de marido mandado pela mulher.
Pronto. Era o que faltava. O ofendido, cujo sangue já estava quente pela raiva e pela briga, parte para cima do baixinho “deixa-disso” e mete-lhe a faca.
O baixinho não estava preparado para o golpe, e leva a primeira estocada. Ááái, grita ele. E recua. O sujeito volta à carga, e o baixinho se defende, mas sente pela segunda vez o frio da lâmina lhe entrando no corpo. Outra facada. O sangue jorra. A gritaria aumenta no lugar, e a faca trabalha pela terceira vez, no corpo do baixinho “deixa-disso”.
A gritaria se torna assustadora. São muitos dizendo meio que de longe “para, cara, para”. O da faca para. O baixinho é socorrido para um canto. Sobrevive. Com lesões profundas. Mas sobrevive. O grandão aproveita a deixa e sai do ambiente, deixando para trás a confusão que havia armado. Socorrem o baixinho. A polícia chega. A ocorrência é registrada. E o ofendido, que só tinha ido lá tomar um trago, agora responderá por tentativa de homicídio. CONTRA DOIS. Dupla tentativa de homicídio. Se escapar de um deles, o do cara que o ofendeu, não escapará do outro, o do que levou as facadas. Dura lex sed lex. É a lei.
Só tinha ido lá tomar um trago. E fazia tempo que não ia. Aí um enchedor de saco faz um dessas brincadeiras de mau gosto, brincadeira que naquele momento, só naquele momento, pareceu desrespeitosa. Fecha o tempo. Alguém tenta apartar. E acaba quase morto. Mais uma das bobagens nossas do dia a dia, atos impensados que começam mal e terminam pior.