Por Alan Caldas (Editor)
Marino Stoffel nasceu em 8 de janeiro de 1935. Foi filho de Carlos Alberto Stoffel e de Elisabete Francisca Klauck Stoffel. Nasceu num prédio histórico. Bem no centro de Dois Irmãos. Um casarão onde seu avô tinha uma pensão e lojas comerciais.
Uma pequena história na vida do seu Marino chama muito a atenção. É a seguinte:
O pai dele era proprietário das terras que ficam na Travessa N. O. Dilly, que hoje tem ao lado da Indústria de Esquadrias Idesa. Na época aquilo era um terreno baldio. E bem no meio do terreno havia uma pedra enorme. Seu Marino lembra de que quando era bem pequeno ia para aquela pedra toda sexta-feira. Ia e ficava ali, sentadinho, só esperando a carroça do pão chegar.
O pão vinha de Novo Hamburgo. Era feito na Padaria São José, que hoje se chama Padaria Brasil. E era trazido em carreta para Dois Irmãos.
Marino adorava comer um pãozinho doce. O “Vechia”, como se diz em alemão. E esse pãozinho doce era vendido na sexta-feira. E, por essa razão, o pequenino Marino cumpria toda sexta aquele ritual de esperar a carreta do pão.
Essa história é linda, porque, sentadinho ali e sem saber, o Marino estava, de fato, era aguardando seu próprio destino chegar. Aquele menininho ainda não sabia, mas sua vida inteira, toda sua vida, suas alegrias e tristezas, tudo na vida dele seria dedicado à panificação.
No passar dos anos, o menino Marino queria ter seu próprio dinheiro. A cidade não tinha muitas opções de trabalho, nos anos de 1940. Mas o garoto Marino conseguiu, aos 13, se empregar na fábrica de queijos do senhor Osório Dilly. Passou a ser recolhedor de leite.
Toda manhã, bem cedinho, nem bem o sol tinha clareado, ele montava num burro e a galope passava por todo o bairro Vila Rosa. De propriedade em propriedade ele ia recolhendo leite para a fábrica do senhor Dilly.
Nos meses seguintes, Marino passou a ser auxiliar de carreteiro na coleta. A empresa tinha uma carreta carregada com tarros e o Marino era o auxiliar do carreteiro na coleta do leite no Vale Esquerdo e Vale Direito.
Um dia o carreteiro não veio. E o Osório disse: “acho que você consegue manobrar a carreta com as mulas”. E lá se foi o Marino, tornar-se carreteiro de leite. Aquele emprego, porém, só durou uns poucos meses.
Por aqueles anos chegou a Dois Irmãos um casal de alemães. Eles alugaram umas peças na casa do senhor Herberto Kuntzler. Esse alemão se chamava Alberto Köchler e ele era panificador. Queria abrir uma padaria e ensinar alguns garotos a ser padeiros.
O jovem Marino Stoffel se prontificou a aprender. E, junto com seu tio José Stoffel, passaram a trabalhar com aquele alemão, iniciando-se no ofício de panificação, onde aprendeu a fazer pães, sonhos e pão de centeio.
O emprego era interessante, mas o forno ficava na rua e quando chovia não se conseguia trabalhar. Mesmo assim, eles trabalharam por 7 anos com o alemão Alberto Köchler.
No dia a dia, o Marino conversava sobre as dificuldades daquele ambiente com a mãe e o pai. E dizia que padaria era um bom negócio. O avô dele ouviu a conversa e soube das dificuldades do neto. Então, vendo futuro naquela profissão, resolveu ajudar. Doou um terreno para o pai do Marino. E o pai construiu um prédio onde o filho pudesse colocar uma padaria na forma correta. Foi o primeiro prédio da Padaria Stoffel. Bem no centro da cidade. Bem ao lado de onde o Marino nasceu.
Quando começaram a padaria, o Marino recorda que sua mãe fez uma bacia de massa para pão de milho e deu para ele assar e “ver se vendia”. Marino enlatou a massa. E forneou. Então colocou à venda. E foi um sucesso. Vendeu todos.
O pão de milho tornou-se no longo do tempo o carro-chefe das vendas da Padaria Stoffel. Eles produziam vários tipos de pães e biscoitos, mas o que vendia mesmo era o famoso pão de milho da Padaria Stoffel.
Chegaram a ter 5 repartidores, pessoas que, de camionete, levavam o pão de Dois Irmãos para Sapiranga, Campo Bom, Nova Petrópolis, Picada Café (no curtume Ritter), Ivoti, Estância Velha e Porto Alegre.
Em Porto Alegre, lembra o Marino, a maior venda era nas sextas-feiras. Nesse dia, em duas bancas do Mercado Público a Padaria Stoffel vendia em torno de 450 pães. E o recorde de produção foi um dia em que venderam 2.500 pães, sendo, sempre, o pão de milho a estrela da empresa.
O pão também tinha enorme saída em Dois Irmãos, isso porque as empresas calçadistas faziam serão e, na noite, davam sanduíche como lanche. “Tinha gente”, brinca o Marino, “que vinha nos dizer que trabalhavam no serão só para poder comer aquele sanduíche com pão de milho”.
Outro momento que lhe vem à memória foi a época em que começaram a fazer cucas. E, em especial, as vendas de cuca nas praias, durante o verão. “Era tanta cuca que nós não conseguíamos dar conta”.
Marino casou quando tinha 39 anos. Ele e dona Renata Stoffel disseram o “Sim” no altar da hoje antiga Igreja Matriz, sob a benção do padre Valentin Weschenfelder.
O casamento lhes deu duas filhas, Simone e Sofia. A filha Simone lhe deu a neta Marina, que recentemente graduou-se em Arquitetura. E a filha Sofia está gestando seu novo neto, que nascerá nos próximos meses.
Marino se aposentou quando tinha 53 anos, mas continuou trabalhando por outros 26. Parou de trabalhar em definitivo só quando faltavam dois meses para ele completar 80 anos de vida.
Gostou da profissão, seu Marino?
“Eu amei a minha profissão”, responde ele, com os olhos brilhando. Por um instante ele parou de falar e ficou como que olhando no tempo. Recordou as alegrias. As dificuldades. Os amigos. E tudo que a profissão lhe deu. E, então, disse, solenemente:
– Eu cheguei às 4 horas da manhã todos os dias. Eu estive presente em cada forno e máquina que compramos. Eu limpava aquilo diariamente. Eu cuidava como se fosse a coisa mais importante do mundo. Eu vivi cada instante da empresa e profissão com toda intensidade. E gostei do que fiz. Amei ter sido panificador. Era meu destino. Foi a minha vida. E, se tivesse de fazer de novo, eu faria novamente. E faria sorrindo!