Por Alan Caldas – Editor (De Segóvia, Espanha)
Quando o Brasil surge, em 1.500, a Espanha já tinha barba branca.
Esse longo tempo de existência e de “ser espanhol” criou as características deste povo agradável, falante, paciente e de olhar não agressivo.
É como se a longevidade lhes tenha acalmado.
Para nós, brasileiros, agitadíssimos, é difícil compreender que somos coletivamente jovens. E que nosso país é jovem. Mas a comparação confirma o tempo que não temos.
Estivemos em Segóvia.
Linda. Mil metros de altitude. Antiga fortaleza. Prédios cor de telha claro, por que o barro deles tem essa cor. Muita pedra. Ruas pequenas e pequeníssimas, feitas milhares de anos atrás.
Tudo em Segóvia tem mais história do que podemos imaginar no Brasil.
Por exemplo:
Mais de 3 mil anos atrás, os Celtas já tinham em Segóvia uma civilização.
Milhares de anos depois, vieram romanos, também civilizados.
A seguir, os Visigodos.
Depois, a genial cultura árabe.
Como resultado desse passado e culturas que foram se substituindo e consolidando no tempo, ficaram obras incríveis.
O aqueduto se destaca em “impressionância”. Dali vem a água de Segóvia na engenharia dos romanos de bem mais de 2 mil anos atrás.
Tanto passado transmitindo informações e conhecimentos às gerações que foram se sucedendo nos milênios, consegue vez ou outra parir pessoas incríveis.
Isabel, a Católica, se destaca entre essas.
Ela foi a genial rainha que, com Fernando de Aragon (com quem ela, aos 17, disse “Sim” as escondidas, para evitar que um da realeza portuguesa assumisse o reino) criou as bases do Estado moderno.
Isabel recebeu a bênção do trono aqui na Igreja de São Miguel, em Segóvia, quase 600 anos atrás. Mas esse fato aqui é tratado como se tivesse ocorrido “ontem”.
A Catedral de Segóvia, cujo tamanho é absurdo e misteriosamente foi erguida com estrutura de tijolos (quando todas as demais são com blocos enormes de pedra), data de mais de 500 anos atrás.
Prédios e casas de mil anos é coisa normal por Segóvia.
Conventos aqui datam de anos muito, muito antes do ano mil. Acredita? E seguem em funcionamento.
É tudo moderno, na cidade, em termos de convívio. Tudo civilizado. Seguro. Pessoas adoráveis, atenciosas e sem pressa. Tecnologia nas casas, campo, pecuária, indústria e comércio. Porém, o ambiente visual é medieval. Não tem nada que seja bem bem jovem, em Segóvia. Tudo lindo, mas com ar antigo. Energia medieval mesmo. A sensação é incrível.
Aqui se “vê” o tempo.
E um detalhe: em Segóvia, a pessoa conhece o seu passado.
Nós brasileiros raramente sabemos o nome dos nossos bisavós materno e paterno. É ou não é?
Por exemplo: Você lembra os nomes dos seus 4 bisavós?
Pois é . . .
Mas aqui, cada família de Segóvia, se olhar nos registros (antes feito sempre pela Igreja Católica) encontrará fácil mil ou até 2 mil anos de genealogia.
Verá a história comprovada da sua família. Do pai, avó, bisavós, tátara, tetratátara... e daí para trás saberá quem eram os seus.
Saberá quem era ele no passado.
Isso é algo que nós não temos. É a juventude coletiva do nosso país jovem: pouca história!
Sobre Segóvia, penso que se a pessoa tem tanto passado assim, tanta história conhecida dos seus, ela vai pensar bem, muito bem, muito, muito bem antes de cometer um erro. Não acha?
E suponho que foi essa longevidade que proporcionou a eles cometerem no longo do tempo tantos erros e acertos, que criou, hoje, este lugar fantástico, repleto de cultura, de tradições, de histórias e estórias e que se chama Espanha. E que todos que conhecem imediatamente se apaixonam.