Por Alan Caldas – Editor
Seu nome é João Guilherme Becker e ele é filho de moradores da divisa entre Dois Irmãos e Sapiranga, na localidade de Picada dos Nabos. Seu registro de nascimento, que ocorreu no dia 23 de janeiro de 1969, ficou em Sapiranga, porque ele nasceu no hospital daquela cidade. Mas toda sua vida tem sido dedicada a Dois Irmãos.
Filho dos agricultores Ivo Edvino Becker e Loni Roesller Becker, o João teve apenas 3 irmãos: o Jorge Frederico, a Cristina e o Jaime Cristiano. E sua história é magnífica e vitoriosa sob vários aspectos.
Por exemplo: ele morava na Picada dos Nabos e foi matriculado no grupo escolar de Dois Irmãos. Da casa deles até a escola, a distância era de 6 quilômetros. Doze, de ida e volta. E o pequenino João, vestindo seu guarda-pó branco, ia e voltava da escola a pé, todos os dias, chovesse ou fizesse sol. Fez isso durante 4 anos, até 1979, quando os pais vieram para Dois Irmãos.
O João não gostava da escola. E por isso, ainda na 6ª série, ele chamou o pai e disse que não queria mais estudar. Queria trabalhar. Seu Edvino, meio assustado com a decisão do garoto, até argumentou, mas João estava irredutível. E então o pai disse que “obrigar ele, eles não podiam”. E foi assim que o João largou a escola e entrou no trabalho. Tinha 12 anos de idade, mas sabia o que queria, pois já ajudava a mãe na entrega dos pães desde 1979. A mãe naquela época trabalhava com um Alvará de confeiteira autônoma.
João largou a escola em 1982 e é nesse ano e graças a entrada dele que surge a Padaria Becker em Dois Irmãos. O João passou a trabalhar integralmente com a mãe, na casa da família, na Travessa 25 de Setembro.
Dona Loni fazia pães e a entrega era com o menino João. Ele levava os pães dentro de 5 ou 6 sacolas grandes, carregando nos braços, e ia entregando em média 30 ou mais pães. Com a parada na escola e entrada na empresa, o João, além de se responsabilizar pela entrega passou também a colocar a mão na massa, a sovar e a levar aos fornos para assar.
Nascia, assim, o padeiro João. João Becker. E um detalhe importante é que “Becker” na língua alemã significa padeiro. E, assim sendo, a escolha do João pela profissão foi de fato um chamado do destino.
Com a abertura da Padaria Becker e apoio total do João, a empresa ampliou a oferta de produtos. Passou a fazer cuca, rosca, bolinhos de manteiga e algumas tortas. Nesse período a irmã Cristina também começou a trabalhar na padaria. E o pai, Edvino, seguia na agricultura, mas nos finais de semana igualmente ajudava na padaria, que então era 100% familiar.
A clientela cresceu rapidamente e o João decidiu aumentar os produtos, passando, então, a ofertar não só produtos deles, mas também de terceiros. Em pouco tempo, a casa ganhou fama.
A vida de empresário de panificadora é exigente, porque se trabalha 7 dias por semana. Não tem folga. E o João lembra que desde 1979 até hoje ele nunca tirou “férias longas”. Saiu poucas vezes. Foi ao Rio de Janeiro por 5 dias. Ao Mato Grosso por 7. E outra vez, também por poucos dias, foi a Montevidéu e Punta del Este. Mas férias, mesmo, das grandes, ele nunca tirou.
Dois anos depois da decisão de ir trabalhar a empresa tinha crescido. E João precisou aprender a dirigir. Ele estava com 14 anos de idade e aprendeu sozinho, treinando numa Brasília da família. Era um menino. E recorda que naquela idade o maior sonho “do mundo” para ele era tirar carteira de motorista. Aos 18 ele tirou. E exagerou, porque tem habilitação para carro, moto e caminhão, embora só dirija carro.
Dedicado 100% ao trabalho, a diversão de juventude do João foi um ou outro baile na Santa Cecília. Às vezes ia porque tinha de fazer companhia para a irmã. Mas não namorou muito. Casou em 1994, com Rosane Sirlei Dillemburg, porém 4 anos depois acabou se separando.
Sozinho, João seguiu fazendo o que fazia melhor: trabalhar. Mas o destino vai preparando o terreno para o que temos de viver. E foi assim, como que “por acaso”, que no ano 2000 se empregou na Padaria Becker uma linda moça vinda de Santo Cristo. Era muito bonita, gentil e extremamente dedicada ao trabalho. Seu nome era Édina Teresinha Kaiser.
Ela entrou como atendente de balcão na padaria. E por 4 anos a relação entre ela e o João foi de absoluto respeito, amizade e coleguismo. Porém ele se identificava muito com ela. Édina além de muito trabalhadora era agradabilíssima com todos, era sorridente, amiga, gentil e atenciosa. Especialmente com o João. “Uma pessoa magnífica”, lembra ele, com o olhar de quem sente uma linda paixão por ela.
Naquele período era o João que levava os funcionários para casa, no final do expediente. E era nesses breves horários que ele e ela se falavam. Se falavam e iam se conhecendo. Se conhecendo e criando afinidade. Com o passar dos anos eles foram tendo admiração enorme um pelo outro. E o clima romântico lá pelas tantas apareceu.
Então, num certo domingo e depois de pensar muito em como fazer, o João se encorajou e convidou a Édina para passear em Gramado. Foi o domingo mais inesquecível da vida dele, lembra o João. E os dois voltaram de lá namorando. Apaixonadíssimos.
Casaram no dia 25 de outubro de 2014. Foi um casamento misto, celebrado no templo da Igreja Luterana em Dois Irmãos, pelo reverendo Oscar Zimmermann e pelo padre Alcido Kaiser, que é tio da Édina. A festa foi no salão do 7 de Setembro. E a alegria era contagiante, porque ambos são pessoas literalmente adoráveis.
João sempre teve uma força de trabalho incrível. E não teve doença na infância. Mas aos 17 anos ele começou a ter pressão alta. Muito alta. E consultou com vários médicos, até que finalmente um doutor lhe recomendou consultar um nefrologista, para ver “como estavam” os rins. E foi um choque.
Constataram que o João tinha insuficiência renal. Ele fez tratamento por 10 anos corridos. E até se submeteu a hemodiálise 3 vezes por semana, durante 1 ano e meio. Ao final ele entrou na lista de transplantes e transplantou no dia 12 de dezembro de 2011.
E como ficou? “Ficou 100%”, diz o João, dando um sorriso de gratidão e felicidade, pois graças ao transplante ele conseguiu reconquistar sua vida normal. E, então, com o João agora 100% de saúde e tempo, a Padaria Becker acelerou o crescimento.
Com o crescimento da empresa ele não consegue mais fazer pão, como antigamente. Agora se dedica à administração. Cuida das compras e do setor financeiro. A Padaria Becker está com 65 funcionários e tem uma segunda loja. Mas embora já não faça mais os pães, o João frequentemente auxilia no atendimento e em tudo mais que for preciso. O foco, porém, é na administração. E o João teve um filho, o William Mateus Tomás Becker, hoje com 23 anos e que igualmente trabalha com o pai na administração.
Apesar do volume imenso de trabalho, a vida social do João é intensa. Ele já presidiu duas vezes o Conselho de Segurança de Dois Irmãos, Consepro, e hoje ainda integra a diretoria. Também foi presidente da Comunidade Luterana. E ajuda no grupo de Voluntários do Hospital.
Sua visão sobre Dois Irmãos é bem clara e positiva. “É uma cidade acolhedora, organizada, limpa e que tem empresas sólidas, e tudo isso me faz crer que o futuro da nossa cidade será muito bom”.