Por Rafael Sauthier*
Semana passada, levei meus alunos de direito da Faccat para visitação técnica no Presídio Central e no Instituto Psiquiátrico Forense – IPF. Além do aprendizado acadêmico, tivemos uma experiência de vida única e inesquecível. E eu, que lá já havia estado duas vezes, novamente me surpreendi.
Esperávamos chegar lá e encontrar o que a mídia classifica como a pior cadeia do Brasil. Mas não foi bem isso o que encontramos. Encontramos policiais militares, agentes penitenciários, médicos, enfermeiros, professores, artistas e voluntários apaixonados por suas atividades nestas casas prisionais. Encontramos um serviço médico de fazer inveja a qualquer plano privado de saúde. Encontramos um ensino de excelência. Encontramos peças de arte maravilhosas. No presídio central, encontramos cerca de 700 presos trabalhadores (num universo de 4 mil e poucos detentos). Encontramos pessoas arrependidas e realmente interessadas em sua recuperação mental, emocional e espiritual. Também encontramos almas perdidas e agrupadas por facções. Mas, afinal, estávamos numa penitenciária. Porém, a realidade nos surpreendeu. Encontramos um programa de recuperação de drogaditos onde não existe reincidência, e onde a recuperação atinge altos níveis de sucesso.
Há problemas? Sim, claro. Muitos. A superlotação talvez seja um dos piores. Mas se essa é a pior casa prisional do país como quer fazer a mídia, em parte essa é uma boa constatação, pois então as outras penitenciárias devem ter ainda mais aspectos positivos para apresentar. A maioria da população desconhece totalmente esta realidade, e tão pouco está preocupada com o que se passa nestas casas prisionais. Mas deveria. Pois sabem qual o destino destas pessoas presas (no Presídio Central) ou internadas no IPF? A rua. Sim, estas pessoas voltarão para o convívio social. Tratá-las como animais, privando-as de qualquer humanidade, apenas irá transformá-las em criminosos ainda piores e mais violentos.
Assim, é preciso que a sociedade passe a pensar e a se preocupar com esta realidade. Parabéns a todos os profissionais que atuam nestas duas casas prisionais. Vocês estão ajudando a contribuir com o futuro do país. E parabéns àqueles presos que, reconhecendo seus erros, além de cumprir com suas dívidas com a justiça, estão buscando recuperação mental, moral, psicológica e espiritual.
Por que a mídia insiste nesta pecha? Por que não mostra este outro lado?
(*) Rafael Sauthier é Delegado de Polícia há 18 anos e exerce suas atividades no Vale do Sinos. Também é mestre em Ciências Criminais pela PUC RS e professor de Direito Processual Penal na Faccat