Alan Caldas – Editor
Ele nasceu Antônio Sátyro da Cunha Neto. Em Dom Pedrito. No dia 10 de dezembro de 1965.
Seu pai, Hélio Sarubbi da Cunha, era escrivão no Cartório. A mãe, dona Sonia Jardim da Cunha, professora. Teve um irmão e uma irmã. E cresceu onde nasceu.
Estudou o ensino fundamental e médio em 3 escolas estaduais daquela cidade: na Bernardino Angelo, na Urbano das Chagas e na José do Patrocínio.
Na época da faculdade ele até pensou estudar odontologia. Influência de um tio. Mas cursou Farmácia e Bioquímica, na Universidade Católica de Pelotas. Entrou em 1983. Se graduou em 1985.
No curso, porém, se apaixonou por anatomia e fisiologia. E então, após estar formado em Farmácia, se inscreveu na faculdade de medicina, em 1986. Saiu médico em 1992.
Durante o curso e em uma viagem até Dom Pedrito, o jovem estudante de medicina Sátyro foi a um evento do Leo Club. E ali o destino lhe apresentaria o amor.
Lá estava uma moça loira, neta de alemães. Tinha longos cabelos cacheados. Olhos muito,muito azuis. E seu nome era Cátia Laval, lhe disse alguém naquele encontro.
Foi o que bastou. Ele olhou para ela e foi como se visse uma estrada. O jovem Sátyro ao vê-la já não viu nem ouviu mais ninguém. Tudo ali era só ela. E tudo nele era para ela. E a recíproca foi verdadeira, porque ela, Cátia, não via mais alguém, após vê-lo. Tudo nela era para ele.
Como que hipnotizados, eles foram se olhando. Foram se aproximando. Foram se sorrindo. Se encantando. Se apaixonando. E descobriram naquele instante que um era sem dúvida feito para o outro.
É lindo essa coisa linda que só o amor proporciona.
No andar do tempo, Cátia foi para Pelotas cursar pedagogia na mesma universidade em que Sátyro fazia medicina. Ela morava num internato de moças. E ele, em um de moços.
Quando se formaram, mudaram-se para Porto Alegre. E casaram no dia 8 de janeiro de 1994, na igreja católica que tem junto ao Parque da Redenção.
Têm uma filha, Andreia, recentemente formada em advocacia, e vivem em um matrimônio harmonioso e feliz.
Após se formar, o agora já doutor Sátyro fez imediatamente especialização em medicina interna e UTI, na Santa Casa. Isso foi nos anos 1992 e 1993.
Após essa, ele fez outra especialização, agora em cardiologia, a área na qual dedicaria toda a sua vida. Então passou a trabalhar no Instituto do Coração, em Porto Alegre.
Foi em 1996 que ele soube da existência de Dois Irmãos.
É que ele se inscreveu no concurso para médico que havia na prefeitura. E foi assim, fazendo a prova desse concurso, que ele colocou pela primeira vez seus pés na sua futura cidade-destino.
Aprovado no concurso, ele começou a atender no Postão. Vinha uma vez por semana, apenas, aos sábados.
O Postão na época era na avenida Sapiranga, e o doutor Sátyro ficava ali atendendo pacientes por 24 horas corridas. Passou a trabalhar também pela região, no Hospital de Novo Hamburgo e no Hospital Regina. Porém seguia morando em Porto Alegre.
Durante seus atendimentos aqui no Postão, os colegas do hospital vez que outra lhe pediam ajuda com um paciente com problema cardiológico.
Prestativo e simpático, ele logo fez amizades. Em especial com o pediatra Jorge Alberto Pires Pereira, de quem se tornaria muito próximo.
E assim é que o doutor Sátyro foi se aquerenciando ao que nós chamamos "estilo Dois Irmãos de Ser".
Nós somos aquilo que decidimos ser e estar. E foi por isso que o filósofo alemão Friedrich Nietzsche escreveu, certa vez, que uma pessoa só se entenderá realmente livre quando escolher, por ela mesma, aquela cidade que será a sua cidade.
Sátyro e Cátia, a um certo tempo decidiram que aqui era o lugar ideal para viver. E para ter família. E vieram morar aqui.
Sátyro abriu consultório e Cátia, pedagoga, foi trabalhar na Escola Estadual Affonso Wolf.
Foi dessa forma que, ouvindo o coração e a razão, em 1998 o casal tornou-se dois-irmonense por opção.
O doutor Sátyro seguiu trabalhando aqui e em Novo Hamburgo, no hospital Regina e na Unimed. No passar dos anos, tornou-se um médico respeitadíssimo.
Seu consultório tem hoje mais de 20 mil pacientes. E o seu ritmo de trabalho chega a alucinantes 16 horas por dia, em média.
Está tentando reduzir, confessa. “Mas não é fácil”, reconhece ele, sorrindo.
Há quem diga que quem corre por gostar, não cansa. E o doutor Sátyro ama o que faz. Se sente bem atendendo pessoas. Ouvindo seus problemas. Aconselhando. Medicando. E lhe dá imensa satisfação ver que os pacientes ficam bem e superam os problemas que têm quando chegam ao seu consultório.
Não bastasse o consultório e os hospitais, no dia 1° de agosto deste 2023 ele assumiu como Diretor Técnico do Hospital São José em Dois Irmãos.
Nem é cargo. É encargo. Nem tempo para isso ele tinha. Mas aceitou.
Seu sonho, me disse, é dotar o hospital de uma estrutura de atendimento emergencial à altura de Dois Irmãos.
Com tanta carga de trabalho, o doutor tenta levar uma vida digamos “normal”.
Em seu histórico tem histórias desconhecidas.
Por exemplo:
Ele já foi cantor. Sabia disso?
Poucos sabem. Mas ele integrou o grupo musical gauchesco Os Piazitos. Tocava violão base. E fazia o vocal.
Ele também foi atleta, sabia? Pois foi.
Lutou karatê por 10 anos. E com a Faixa Bordô na cintura ele defendeu o Rio Grande do Sul num campeonato nacional.
Hoje, aos 58 anos, medindo 1m82 e pesando 82 quilos, seu esporte é a musculação. Faz só para manter a massa muscular, não para hipertrofiar.
Seu passatempo nas raríssimas horas vagas é a leitura. E no convívio familiar ele toma chimarrão e assiste filmes. Adora seriados.
Também gosta de cozinhar. Carnes, em especial. E afirma que na culinária campeira se sai muito bem, obrigado.
É católico. Acredita fervorosamente em Deus. E reza todos os dias.
Ser cardiologista no interior não é fácil, diz ele. Na capital quando iniciou ele trabalhava em um local repleto de tecnologias e equipamentos.
Em Dois Irmãos e sem o apoio de tanta tecnologia, ele precisa fazer uma avaliação clínica extremamente apurada para que o diagnóstico seja perfeito.
E isso o obriga a conhecer profundamente cada paciente. Ouvir bem cada um. E observar atentamente.
É mais difícil do que quando se tem grande tecnologia à mão, ele admite. Mas, em compensação, as pessoas se sentem amparadas pela atenção intensa que o doutor Sátyro dedica a elas afim de poder fazer um diagnóstico sem erro.
Em seus casos mais lembrados está o do menino que, aos 8 anos, num acidente de bicicleta rompeu o baço e logo morreria sangrando. Ele estabilizou o garoto e o levou a Porto Alegre. O garoto sobreviveu. Foi um milagre. Em 2018, ele já grande, a mãe veio ao consultório, pagou uma consulta e lhe dando um abraço apertadíssimo disse, entre lágrimas, o muito obrigado por ter salvado a vida do filho.
Um outro caso foi o de um rapaz, de 22 anos, que levou uma facada que lhe perfurou o coração. Morreria em instantes. O entubaram e o doutor Sátyro foi na ambulância sentado ao lado dele daqui até Porto Alegre, com o dedo dentro do buraco no coração, para evitar o sangramento. O paciente sobreviveu. Outro milagre.
Um terceiro caso foi em Novo Hamburgo. Sátyro era o único cardiologista disponível no hospital. Os outros três estavam em cirurgia. Um coração parou. E, tecnicamente, o homem acabara de morrer.
Mas Sátyro não aceitou. Abriu o paciente num corte horizontal. Colocou sua mão por entre as costelas dele. Chegou ao coração. E por 13 minutos corridos massageou com sua mão diretamente o coração do rapaz. Fez isso energicamente, pensando em técnica e pensando em Deus. Até que no 13° minuto o paciente voltou à vida.
Sátyro saiu de lá sem saber o que dizer até mesmo para ele próprio. Esse foi sem dúvida um milagre.
É por essas e por (muitas) outras que as ruas reconhecem a atenção, o respeito e a dedicação dele para com os seres humanos que caem em suas mãos.
E é assim que, após 27 anos em Dois Irmãos, o doutor Sátyro é sem dúvida um médico adorado pela população do município e região.