Por Alan Caldas – Editor
Eliseu Padilha morreu na noite desta segunda-feira (13), em Porto Alegre, levado por um câncer de estômago. E, assim, aos 77 anos e na cama do hospital Moinhos de Vento, em Porto alegre, despede-se da vida um dos gaúchos que mais trânsito teve na vida política nacional brasileira.
Natural de Canela e nascido em 23 de dezembro de 1945, Padilha, como ficaria conhecido, cursou Ciências Jurídicas e Sociais na Unisinos, bacharelando em Direito. Começou cedo na política. Em 1966, aos 20 anos de idade, filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro, o MDB, passando a participar da política estudantil em Canela. Em 1967 mudou-se para Tramandaí, onde se elegeria prefeito em 1989. Seis anos depois, em 1995, foi eleito deputado federal e, com o pé em Brasília, vislumbrou o futuro e começou a assumir cargos na direção executiva nacional do já então PMDB.
Ficaria como deputado eleito e reeleito sucessivamente até 2011. No meio disso, em 2007 assumiu a presidência da politicamente prestigiada Fundação Ulysses Guimarães, cargo que ocupou até 2015. Em 2010, concorreu à reeleição de deputado no cargo que já ocupava e cujo mandato terminaria no ano seguinte, 2011. Em Dois Irmãos, Padilha contratou a vereadora Tânia Terezinha da Silva para lhe angariar votos, mas a votação foi pífia, tanto aqui quanto no Estado. E ele não se reelegeu. Ficou na primeira suplência e retornou ao cargo de deputado em 2013, quando o deputado Mendes Ribeiro filho assumiu o Ministério da Agricultura. Seguiu deputado federal até 2015.
Nesse meio tempo, entre 1997 e 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, Eliseu Padilha assumiu como ministro dos Transportes. Nessa época e quando aqui era prefeito Juarez Stein, o ministro Padilha teve grande participação em Dois Irmãos, proporcionando os dois acessos que temos hoje na BR-116. Em dezembro de 2014, durante o segundo governo da presidente Dilma Roussef, do PT, ele assumiu como ministro-chefe da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República. Nesse cargo e um ano depois, no dia 1º de dezembro de 2015, Eliseu Padilha pediu demissão.
O fato da demissão ficou notório pois ocorreu justo um dia antes do então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (posteriormente preso por corrupção) ter acatado o pedido de impeachment da presidente Dilma e que, no correr da história do golpe, colocaria na presidência o vice Michel Temer.
Certa vez, em uma visita aqui no Jornal Dois Irmãos, Eliseu Padilha me disse que era “amigo íntimo” de Temer. Assim sendo, quando Michel Temer chegou a Presidência Eliseu Padilha assumiu como ministro da Casa Civil, cargo para o qual era talhadíssimo e que faz, de fato, a coordenação política do governo. No dia 5 de julho de 2018, Padilha foi nomeado interinamente ministro do Trabalho, deixando o cargo quatro dias depois, em 9 de julho.
Em sua vida política Padilha foi prefeito, deputado e ministro de três presidentes, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Michel Temer. Passou a vida na política, entre anjos e demônios, como se sabe. Mas saiu dela ileso. Saiu sem condenação judicial por corrupção, algo quase “anormal” na política dos últimos 30 anos.
Sua única mácula foi ser citado na operação Lava Jato. Essa operação, que “em tese” teria iniciado para combater a corrupção no Poder Executivo, chegou em Michel Temer, o presidente do qual Padilha era ministro. O presidente Temer, que ao final do governo chegou a ser preso por algumas horas, segundo a denúncia na Lava Jato teria “pedido” 10 milhões de reais para a empreiteira Odebrecht. Nessa época, Eliseu Padilha, então ministro, precisava dizer algo devido ao cargo que ocupava na presidência, e, ao ser ouvido pela imprensa, Padilha disse que “a Lava Jato saberia quando parar”.
Isso foi visto como “um ataque”, uma ameaça ao seleto (mas depois enlameado) grupo que comandava a Lava Jato. E, em vista disso, Padilha foi atacado e vasculhado em 45 diferentes denúncias. Tentaram de tudo para envolvê-lo em “alguma” corrupção. Mas, nada.
Conforme os julgamentos mostraram posteriormente, nada ficou comprovado contra ele.
Morreu ontem. Em paz. Deixa esposa e 6 filhos. Será velado na quarta-feira (15), no Palácio Piratini, das 10h às 17h, seguindo depois para o Crematório de Porto Alegre.