Pe. Dirceu Ritter / Comunidade Católica – Paróquia São Miguel
Estamos vivendo no tempo quaresmal e de Campanha da Fraternidade que tem como tema: “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, sintonizado como o lema que vem da frase bíblica: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”, texto advindo da parábola do Bom Samaritano (Lc 10,33-34).
No cartaz da Campanha da Fraternidade de 2020, aparece a imagem da Irmã Dulce da Bahia. Por que será? A canonização da Irmã Dulce, em 13 de outubro de 2019, foi um precioso presente para os fiéis católicos. Agora a pequena e humilde baiana pode ser invocada pelo nome de Santa Dulce dos Pobres. O nome desta mulher chamada Dulce lembra doçura. Aquela doçura que os corações bondosos sabem espalhar na vida dos próximos, mesmo tendo uma vida marcada pelo sofrimento. Como bem disse outro grande ser humano – Dom Helder Câmara: “Há criaturas como a cana: mesmo postas na moenda, esmagados de todo, reduzidos a bagaço, só sabem dar doçura”.
A Irmã Dulce foi a doçura na vida difícil imposta a tantos irmãos deixados à beira do caminho. Ela percebeu, desde cedo, que a vida só tinha sentido quando permeada de ternura. E foi o que ela fez durante a sua vida: abraçar com ternura os pobres e indesejados, os sem endereço da cidade de Salvador na Bahia. A Irmã Dulce foi uma mulher nordestina que não tinha medo do lugar dos conflitos, a rua. Ela carregava no coração, no olhar e nos gestos os mesmos traços de Jesus Cristo. Ela viveu a essência do cristianismo: o Amor.
Havia no peito de irmã Dulce a chama do bem, da compaixão, da urgência para o cuidado. O corpo magro e frágil, passos suaves, andava na contramão das grandezas do mundo. Toda a sua vida foi doada no serviço aos irmãos excluídos, transformados em sobras, resíduos.
Os olhos iluminados pelo amor, na irmã Dulce, se fixavam no invisível, no profundo: Deus mesmo. Ela ensinou a todos o que é ser discípula pelo exemplo, e não só por palavras.
Conta-se que, certo dia, irmã Dulce foi pedir ajuda a um homem rico de Salvador, para socorrer a multidão de pobres que sempre lhe acorria em busca de alívio para o fardo da fome, da indigência e principalmente, da indiferença. A irmã, ao fazer o pedido e estendeu a mão, teria recebido uma cusparada na mão. Diante da humilhação, irmã Dulce estendeu a outra mão e disse: “Tudo bem, a cusparada é para mim, e ajuda para os meus pobres”?
O grande gesto de irmã Dulce é uma lição de bondade que desarma a arrogância, um apelo por justiça: fazer justiça aos pobres. Ela viu, sentiu compaixão e cuidou deles. Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!