Por Alan Caldas (Palermo - Itália) / (Tempo de leitura: 2m50s)
Não existe cidade sem historinhas. Para se conhecer a cidade é preciso saber o que povoa o imaginário dos habitantes. Em Palermo, capital da Sicília, existem muitas historinhas. Vejamos algumas delas:
Olhando com olhos de hoje parece risível. Mas conta a história que, em 1554, quando construíram aqui a belíssima fonte da Piazza Pretória imediatamente ela virou um escândalo social.
As freiras se revoltaram porque as estátuas mostravam pessoas nuas e a apelidaram de Fonte da Vergonha, apelido que dura até hoje.
Durante a noite, as freiras saíam do convento e iam lá, cobrir os órgãos genitais das estátuas e depredá-las.
Outra historinha aqui conta que Palermo surgiu entre dois rios. E que nas cheias as águas desalojavam quase que 100% da população.
Hoje, porém, os dois rios desapareceram e todos aqui se perguntam, sem resposta, como foi que os rios simplesmente sumiram.
Uma outra historinha popular de Palermo mostra que esta é a única cidade que tem um “Gênio”, tipo o gênio da lâmpada. Ele é reconhecido como o gênio pessoal de Palermo.
É um símbolo da cidade. O povo acredita nele e o reverenciam e acreditam que, junto com Santa Rosália, esse Gênio protege os moradores e a cidade.
Não é um Deus. Nem santo.
É uma “entidade” personificada em um homem de meia-idade, com barba, coroa e com uma cobra mordendo seu peito. Dizem que ele as vezes aparece. E em vários lugares de Palermo se vê estátuas do Gênio pessoal dos parlemitanos.
Giuseppe Balsamo, o famoso Conde de Cagliostro, nasceu aqui em 1743 e não é cultuado como divindade nem como gênio, mas exerce grande encanto e mistério nos palermitanos. Dizem que foi alquimista e que descobriu a Pedra Filosofal, que tanto procuramos.
Condenado por heresia, Cagliostro virou cult e ganhou rua no coração do famoso mercado Ballarò.
A histórinha do Buraco da Salvação é boa, também.
Em 1860, dois patriotas anti-Bourbon se refugiaram na cripta da Igreja dos Anjos para não serem presos.
Após dias sem comida e água, cavaram um buraco e sinalizaram sua presença às mulheres que saíam do edifício.
As damas, vendo os “partigianos”, armaram uma briga falsa para distrair os guardas e os dois saíram da cripta pelo buraco.
Apelidado de “Buraco da Salvação”, hoje o local é destino certo de peregrinações e de várias “graças” conseguidas aqui em Palermo.
Os tênis nos fios de Palermo têm várias historinhas.
Bairros mais simples têm a característica de pendurar tênis em fios de eletricidade.
Uns dizem que é um anúncio de que ali tem tráfico. Outros afirmam que é um ritual para afastar “entidades malignas”. A maioria, porém, reclama mesmo e do “enfeiamento” do espaço urbano com essa prática.
Aqui tem o teatro do Uáááau!
Vittorio Emanuele é o herói da unificação italiana, ocorrida em 1861. E aqui em Palermo ele dá nome ao magnífico teatro de ópera, que é o maior da Europa e não há quem chegue perto dele e não diga: uáááau!!!
Nesse teatro tem também uma historinha.
Contam que durante a demolição dos edifícios na área destinada à construção do teatro, profanaram o túmulo de uma freira.
E, desde então, a pobre alma percorre em sofrimento o prédio do teatro. Dizem que aparece vez que outra no palco, durante os shows.
E ela é tão famosa aqui quanto o corcunda é na igreja Notre Damme de Paris.
Talvez você não creia. Mas cuidado: os palermitanos afirmam que o espírito da “Monachella” pode te lançar maldições terríveis.
FOTOS
1. Esse é o Gênio. Os palermitanos acreditam sinceramente que ele anda entre eles e os protege. Não é um Deus ou santo, é um Gênio
2. Essa é uma das estátuas que as freiras “tapavam” e que acabou batizando a praça de Fonte da Vergonha, apelido que dura até hoje, 500 anos depois
3. O Teatro Vitorio Emmanuel é o maior teatro de ópera da Europa e nele perambula o fantasma de freira
4. Nos bairros mais simples se pode ver sapatos e tênis pendurados em fios de iluminação pública
5. O Conde de Cagliostro. Para alguns, um alquimista que achou a Pedra Filosofal que tanto procuramos