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Já cantava Vinicius de Moraes:
Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
(...)
Porque o samba é a tristeza que balança
A tristeza tem sempre uma esperança
A tristeza tem sempre uma esperança
De um dia não ser mais triste não
O poetinha também sabia que
é melhor ser alegre que ser triste, que
alegria é a melhor coisa que existe...
Não há por que duvidar de um sentimento ou estado de espírito que inebria e contagia às vezes até quem não quer ser contagiado. Em tempos de vírus mortais, que tanto podem ser físicos quanto morais, talvez somente uma epidemia de alegria e bom senso para nos salvar de nós mesmos e dos outros.
Não sei se o mundo anda vacilante, mais errante que outrora, apenas sei que sinto pontadas de angústia diante do que se convencionou chamar de mal, uma predisposição que costuma descambar em horror e que, quando se repete, transforma o horrível em algo ainda mais cruel: a indiferença. A violência, em todas as suas formas, nos diminui, nos empobrece, nos torna prisioneiros da própria ignorância. O sofrimento banalizado nos faz torcer (e rezar) para não entrar para a estatística.
A ânsia por se fazer notar neste mundo acelerado (e celerado) fez de nós seres (humanos, como os índios) mais agressivos em todos os sentidos. Substituímos alegria, amor, compaixão por raiva, ódio, rancor. Facilmente nos ofendemos com o egoísmo dos outros, principalmente quando queremos crer que apenas a nossa voz deve ser ouvida – afinal, egoístas são os outros, porra! Por sorte, nem todos andam fisicamente armados, mas o fel das palavras e dos pensamentos também pode ser fatal.
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Não sei se hoje está pior do que ontem ou se ontem é só o amanhã disfarçado de hoje. Só sei que, por vezes, tenho imensa dificuldade em entender o tempo presente, como se não fôssemos mais capazes de entender o presente que é o tempo em nossas vidas.
Sem perceber, temos treinado nossa fúria para um espetáculo desagradável, indigno de plateia. Não há redenção possível, tampouco aplausos para nossos desatinos; apenas uma cortina inflamável que se fecha melancólica, triste. O samba, para ter beleza, até pode precisar de um pouco de tristeza, mas lembre-se: a tristeza tem sempre uma esperança, a tristeza tem sempre uma esperança de um dia não ser mais triste não...