Por Alan Caldas (Editor)
Philomena Leonida Backes nasceu em 4 de julho de 1930, na cidade de Feliz. Foi a quinta filha. Nasceu em casa, sob os olhares de uma parteira e com muito esforço da mãe, dona Otília Renz, que além de Leonida teve ainda outros cinco filhos: Bruno, Luceno, Izidoro, Maria e Silvia.
Seu pai, Pedro Paulo Seitel, nasceu na localidade de Harmonia, então um distrito do município de Feliz. Trabalhava na roça e em um alambique, onde era fabricante de cachaça. Dona Leonida tem recordações dos colonos levando a cana até o alambique e ela, ainda criança, ajudando a carregar e a moer a cana. Recorda com carinho que no final do expediente ela e o pai iam tomar banho no Rio Caí e foi lá que seu pai a ensinou a nadar. Outra recordação de sua infância em relação ao pai é que certa vez seu Pedro Paulo Seitel quebrou seu cofrinho para contribuir na construção da catedral de sua comunidade. Seu Pedro faleceu com 94 anos.
A mãe, Otília, nasceu na localidade de Bom fim, que também pertencia ao município de Feliz. Ela trabalhava na roça, ajudando a família, e cuidava dos filhos e da casa. Dona Otília faleceu por volta dos 80 anos.
Os avós paternos, Francisco e Maria moravam em Bom Fim e eram agricultores. Seu avô também trabalhava em um negócio de uva, e Leonida lembra dele a colocando no colo e alisando seu cabelo, assim como dando carinhosamente moedinhas para ela e seu irmão. Era muito carinhoso com todos e seus aniversários eram famosos, porque ele nasceu no dia 3 de outubro, que é o Dia de São Francisco de Assis.
Os bisavós paternos de Leonida vieram da Alemanha, mas ela não os conheceu.
Os maternos eram Jacob Renz e Bárbara Schul. Moravam perto da casa de Leonida e eram igualmente agricultores. A neta não era muito próxima do avô, mas quando ele ficou doente acabou morando com sua família durante meio ano. A avó era uma “santa”, lembra Leonida, mas infelizmente faleceu cedo.
Leonida lembra das brincadeiras de infância, quando visitavam os avós e brincavam no potreiro com amigos. Ela também gostava de brincar de fazer boneca de sabugo de milho e panos velhos, assim como juntas de boi.
Na juventude, certa vez ela estava no Santuário do Padre Reus, em São Leopoldo, e ali conheceu um rapaz. Era Benno Backes. Olhos nos olhos. Coração no coração. E a história se fez. Benno se tornou seu marido. Casaram na Igreja Matriz de São Leopoldo, no dia 7 de fevereiro de 1953, e a festa foi em Dois Irmãos, onde o jovem casal firmaria residência.
Benno era de São José do Herval. E era marceneiro. Infelizmente faleceu cedo, aos 56 anos, vítima de um AVC.
O casal teve dois filhos: José Agostinho Backes, que é engenheiro, e Paulo Raul Backes, que é técnico de calçados. Os filhos lhe deram quatro netos: Bárbara e Benno, filhos de Agostinho, e Cláudia e Felipe, filhos de Paulo. E os netos lhe deram dois bisnetos: Lucca, filho de Bárbara, e Fernando, filho de Benno.
Aos 13 anos de idade, a vida da menina Leonida mudaria completamente. Criada em família devotada ao catolicismo, desde criança ela queria ser freira. Ocorreu, então, de uma tia dela ir até Feliz visitar a família. E, encantada com a doçura da pequena Leonida, a levou para Porto Alegre, onde ela começou a estudar e trabalhar no Colégio Bom Conselho. Após algum tempo, foi transferida para a Santa Casa, e ali passou a cuidar de enfermos. Sempre demonstrava grande amor e atenção aos que precisavam de seus cuidados. E, em vista disso, acabou indo para a cidade de Bom Jesus, quando foi inaugurado lá o hospital da cidade e acabou trabalhando por dois anos nos campos de cima da serra.
Leonida gostava da cidade e do trabalho, mas Bom Jesus era um lugar distante e na época a comunicação era difícil. Então, certa vez, numa visita que fez para a mãe, em Feliz, dona Otília lhe pediu que não morasse mais tão longe. E atendendo o pedido, Leonida se transferiu. Saiu de Bom Jesus e foi trabalhar no Hospital Centenário, em São Leopoldo. E ali ela encontrou seu destino e começou a viver a sua maior história, pois naquele hospital seu serviço era na Maternidade e foi ali que ela começou a fazer seus primeiros partos.
Seu destino se mostrou ali não apenas no trabalho, pois foi em São Leopoldo, também, que ela encontrou Benno Backes, seu esposo. E, após casar-se, Leonida veio morar em Dois Irmãos.
Estava em Dois Irmãos por apenas dois dias quando começou a trabalhar no Hospital São José. Ela sempre foi uma mulher muito ativa e determinada, e ao chegar na cidade foi falar com o médico Bruno Kraemer. Ele rapidamente requisitou seus serviços, pois o hospital contava apenas com um médico e uma freira. E o trabalho de Leonida se tornaria de importância fundamental, tanto para o hospital quanto para a comunidade dois-irmonense.
Os atendimentos dela não se restringiam ao ambiente hospitalar. A jovem Leonida percorria várias localidades para ajudar quem precisava. Ela lembra, sorrindo, que algumas vezes, quando o marido Benno ia almoçar em casa, ela aproveitava e pegava sua bicicleta para ir cuidar de alguém ou aplicar injeção na casa de quem estivesse necessitando.
Outras vezes, o meio de locomoção de Leonida era a cavalo mesmo. Isso ocorria quando o deslocamento exigia rapidez, como no caso de um parto urgente, por exemplo. Ela pegava um cavalo emprestado no piquete e saia a galope, para atender ao nascimento.
Os anos foram passando. A cidade começou a crescer. E a área de atendimento dela foi se ampliando. A pé, de bicicleta e a cavalo já não atendiam as necessidades de urgência. Então ela decidiu se motorizar.
Comprou um jipe que o então prefeito de Estância Velha estava vendendo. Não tinha todo o dinheiro para pagar à vista, mas sempre boa de conversa ela negociou com o prefeito e pagou em várias parcelas.
Estava motorizada. Era proprietária do jipe. Mas não sabia dirigir. Para aprender a dirigir, Leonida contou com o apoio da polícia de Dois Irmãos. O sargento Maicá a levava na viatura até Estância Velha, onde ela treinava dirigir o jipe.
Não foi tão fácil, ela lembra. “De bicicleta e cavalo para jipe tem muita diferença, seu Alan”, disse ela, sorrindo. E, certo dia, ela, nas primeiras barbeiragens, se perdeu na direção e invadiu uma plantação de aipim. Quase morreu de vergonha.
Decidiu então treinar sozinha. Trouxe o jipe para o campo do Clube 7 de Setembro e praticou bastante, até que finalmente conseguiu tirar a carteira de motorista. Aquele jipe era a liberdade para ela e a felicidade para os pacientes e gestantes, que a viam ir e vir para diversos lugares.
Leonida se tornou a parteira oficial da região. Atendeu mais de 5 mil partos em Dois Irmãos, Morro Reuter e Santa Maria do Herval, sempre com grande profissionalismo e carinho pelas gestantes e pelos novos dois-irmonenses que pelas suas mãos iam chegando ao mundo.
Leonida foi sempre uma mulher sorridente e atenciosa com todos. Ela é uma das fundadoras do Clube de Idosos Reviver, clube que ajudou a criar junto com dona Eliana Wolf, na época a primeira dama de Dois Irmãos, esposa do lendário prefeito Romeo Benício Wolf. Elas e outras mulheres da cidade se mobilizaram para promover atividades para os idosos. Pelos registros históricos, o Reviver teria sido o primeiro Grupo de Idosos legalmente registrado no país.
Hoje o Clube Reviver tem coral e grupo de dança. E muitos outros clubes surgiram a partir dele. Na época da sua fundação, ele foi uma verdadeira salvação para os idosos, que ficavam só em casa, sem nada para fazer, e que, com a chegada do Reviver, passaram a ter atividade quase que diária. O Reviver melhorou a vida e a esperança de centenas de idosos, que graças aquele grupo voltaram a sorrir e a ter esperança.
Leonida também ajudou a fundar grupos de idosos em Ivoti, Morro Reuter e São José do Herval. Além disso, também colaborou para a criação da Apae, para a criação da Liga Feminina de Contra ao Câncer e para a FADI. Ela era sempre uma mulher muito consultada em tudo que dizia respeito à comunidade de Dois Irmãos.
Ela trabalhou até os 80 anos, e parou porque a saúde já estava um pouco mais frágil. Hoje, aos 93 anos, ela mora em uma casa de repouso para receber cuidados mais profissionais. Em seu novo lar, mantém vida ativa. Faz exercícios com auxílio de um educador, ouve suas músicas e faz artesanato.
Em seu quarto, mantém vários CDs musicais e um rádio, para não perder a programação das músicas em alemão. Gosta de ler livros de pensamentos positivos, em português e alemão. Sempre generosa, adora fazer crochê e tricô e dar de presente as peças confeccionadas. Segue sendo a mesma e querida Leonida de sempre, atenciosa com todos, amorosa e positiva na forma de ver e encarar a vida. A saúde lhe tirou a mobilidade, mas não a alegria de viver.
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PHILOMENA LEONIDA BACKES
Viúva de: Benno Backes
Mãe de: José Agostinho Backes e Paulo Raul Backes
Avó de: Bárbara, Benno, Cláudia e Felipe
Bisavó de: Lucca e Fernando
Filha de: Pedro Paulo Seitel e Otília Renz
Neta de: Francisco Seite e Maria Seitel, e de Jacob Renz e Bárbara Schul