Por Alan Caldas – Editor
Abrimos o Jornal Dois Irmãos em 1983 e o prefeito Romeo Wolf logo me apresentou o seu Norberto Emílio Rübenich, do qual ele havia sido vice-prefeito.
Não acompanhei o governo do Rübenich, mas sabia que era um histórico morador da cidade. Empresário de embutidos, sua fábrica era no Travessão, cuja rua principal leva o nome do pai dele e que é o berço de Dois Irmãos. Foi no Travessão Rübenich que chegaram, em 1829, nossos Fundadores, e lá está a Escola Mário Sperb, primeira da cidade, e um tenso mas histórico cemitério.
Rübenich era bem-humorado. Conhecia a alma dos agricultores. Como prefeito, se preocupou em arrumar estradas, levar eletricidade e facilitar a vida dos colonos. Creio que ele se via neles. E, na época dele, Morro e Herval eram Distritos, tínhamos 800 quilômetros de estradas e a divisa ia até Gramado, lá em Nova Renânia.
Por bondade, seu Rübenich me tornou seu amigo. Fiquei honrado. Ele era tudo. E eu, recém-chegado, praticamente nada. Nas festas comunitárias sentávamos juntos, tomando cerveja em copo baixinho e contando histórias da Dois Irmãos antiga.
Seu Rübenich lembrava que quando era menininho ele e um irmão “corriam” quando ouviam um carro vindo ao longe, lá no Travessão. “Era assustador”, dizia ele, e quando o veículo passava ele “cheirava o ar”, pois ficava um odor de gasolina que ele desconhecia.
Acabei vizinho de bairro dele, quando comprei do Alceu Feijó a chácara no alto da rua Princesa Isabel. E muitas vezes visitei o amigo Rübenich para prosear, tomar “tee” e pedir conselhos.
Porém, mudei para lá sem fazer alarde. E uma manhã ele entrou aqui no jornal e disse:
– Alan, fui no armazém do Miro Scholles e o Zeca disse que você está morando lá no morro. É bom lá. Alto. Bonito. Lá tu só precisas duas coisas:
– Um cachorro bem brabo e uma espingarda que nunca falhe...
Seu Norberto falou aquilo e saiu rindo em direção a sua igreja da IECLB, em frente ao jornal. Fiquei na porta, vendo ele subir a escadaria, e pensei:
- Seu Rübenich é mesmo brincalhão. Um cachorro brabo. Uma espingarda boa... hê hê hê... Que brincalhão.
Mas, brincadeira ou não, por via das dúvidas fui lá na Armeria do Cesar Oliveira e encomendei uma espingarda “bem boa”, calibre 12, de repetição, mas no fim acabei não comprando, porque precisava uma papelada desgraçada.
O amigo mais ilustre do Rübenich era o governador Amaral de Souza. O governador adorava o Rübenich, e onde quer que ele estivesse e o seu Norberto chegasse, o governador Amaral largava tudo e ia bater papo e ouvir suas piadas. O Rübenich se orgulhava dessa bela amizade.
Ninguém sabe quando chega ao mundo. E a saída é surpresa. Seu Norberto faleceu faltando poucos dias para completar 90 anos. Estranhei muito. Todos estranharam. Ele era forte como um touro.
Vi a foto desse querido amigo e dois-irmonense ilustre lá na prefeitura, e lembrei que meses antes dele partir nos encontramos no velório de um amigo, ali na Capela Mortuária. Na saída, ele me disse:
– Que bom que te encontrei aqui, né Alan?
– É mesmo, seu Rübenich? Mas por quê?
E responde baixinho, olhando o caixão:
– É que podia ser tu ou eu ali, não é? – E saiu rindo, andando naquele jeitão inconfundível dele de andar.
Que saudades do seu Rübenich!!!