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Às vezes eu queria não ser eu.
Queria ser outro, mas sem precisar deixar de ser eu.
Entende? Não? Pensando bem...
Bipolar, frio polar, por mim podíamos pular esse inverno... Que inferno! Tosse, coriza, às vezes qualquer brisa já inferniza. Mas seria injusto eu, com 30 e muitos, reclamar do frio extremo. Afinal, quem mais sofre nesta época do ano são justamente os extremos: crianças e idosos. Além do mais, a temperatura baixa destes dias é questão passageira, pontual, produto da estação – hoje já fez um calorzinho de novo! No clima, a questão maior e mais urgente é global: quando, de fato, vamos nos preocupar com o aquecimento do planeta?
Para muitos, tudo parece um reino tão, tão distante... Ledo engano! Não acredito que estamos diante de um medo enganoso, amplificado ou subestimado conforme a direção dos ventos de interesses variados. A situação está mais para danosa, principalmente se continuar sendo desconsiderada por quem deve considerar todas as possibilidades – sempre! Nossa maior dificuldade, como indivíduos, é entender a importância de fazer a parte que nos cabe, mesmo sabendo que não seremos parte do futuro que colherá os frutos (contaminados ou não) de nossas ações. Somos imediatistas e autofágicos. Até pensamos no amanhã, que é domingo, mas não no amanhã.
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Eis alguns sinais que gritam:
- No dia 29 de julho, a Terra atingiu o ponto máximo de uso de recursos naturais que poderiam ser renovados sem custo ao ambiente em 2019. A estimativa é da Global Footprint Network, organização internacional que contabiliza o quanto é usado para as necessidades de um indivíduo ou de uma população. O cálculo mede a área terrestre e marinha necessária para produção de todos os recursos consumidos a ponto de que o planeta ainda consiga se regenerar. Em 2019, a humanidade atingiu a data-limite três dias antes do que em 2018 — e mais cedo do que em toda a série histórica, iniciada em 1970.
- O planeta bateu novo recorde de emissão de gases de efeito estufa na atmosfera em 2018. Segundo o relatório “Estado do Clima 2018”, divulgado esta semana no Boletim da Sociedade Americana de Meteorologia, a emissão de gases como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso seguiu aumentando e, combinados com outros gases conhecidos como halogenados, já têm um efeito de aquecimento 43% maior do que em 1990.
- O aquecimento global registrado atualmente supera em velocidade e extensão qualquer evento climático registrado nos últimos 2 mil anos. Em artigo publicado na revista Nature, cinco pesquisadores afirmam que nem mesmo episódios históricos como a “Pequena Era do Gelo” – resfriamento acentuado entre os anos 1300-1850 – se comparam ao que está acontecendo agora.
Não é brincadeirinha de tá frio, tá quente... Tá quase queimando. E não é só culta dos maus brasileiros!
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Apesar do temor crescente de alguns (e descrente de outros), os alertas do aquecimento acelerado instilam fagulhas de esperança, principalmente nas gerações recentes. Na contramão da ostentação virtual e vertiginosa, percebo surgir, ainda que de forma tímida, uma nova compreensão do ‘ser’ com menos ‘ter’. Vai ver é só impressão, desejo. Mas, tenho pra mim que, se o coração sente, os olhos um dia também poderão enxergar. Basta fazer o simples, e o simples costuma ser complicado porque nos obriga a romper a barreira da negação do possível. A impossibilidade de algo muitas vezes é a zona de conforto de que precisamos para não admitir ou pensar nas frustrações.
Por ora, não me furto ao clichê: só tem jeito se cada um fizer sua parte. Eu já estou fazendo a minha, dia sim, dia não. O problema é a dor de barriga fora de hora...