Juliana Kappel
Naquele instante de sol a pino, percebi todas as agonias pairarem sobre mim.
O coração inquieto, como se o peito não lhe bastasse mais, entendia que era a hora do cessamento.
Por um momento e sem aviso, as lágrimas vieram à face.
Eis que é essa a hora, a vigésima quinta.
Não é uma hora que se possa descrever com precisão.
Ela se parece com o outono, com seus dias cinzentos e com sua permissividade para as folhas secas abandonarem suas árvores.
Mas elas não o fazem sem esperança, sabem que há um recomeço.
É um momento semelhante aos dias mais tristes, os quais me testaram, mas eu os suportei.
O que foi construído já não importa.
É tudo muito consciente nessa hora e de nada mais quero me convencer.
Se dissipam todas as solidões.
O corpo fatigado ironicamente terá o mesmo destino das folhas caídas, pois ele sempre foi apenas um abrigo, uma casa temporária.
A diferença é que não quero a esperança de um recomeço, os dias aqui me bastaram.
Uma brisa suave e perfumada toca agora minha pele inclemente, é um prazer nobre, mas escasso.
Glórias, conquistas, decepções, tudo se perde na mente já confusa e ao mesmo tempo tão consciente que assusta alguns espectadores.
Se pudesse falar nesta hora, diria que o que fizemos de mais bonito ficará somente se construído no tempo certo.
A partida é sempre um momento gélido, assim como o inverno que chega de repente e sem uma perspectiva clara de que a próxima estação é sim, a primavera, felizmente ela virá mesmo sem minha presença.
Devo ir agora...
Lembre-se, não serei eu mais uma estrela no céu, minha ousadia nunca foi tão grande, mas estarei junto a ti enquanto permitires.
E, mesmo que me perceba nessa mistura de agonia e resistência desejando mais alguns minutos, não os terei.
Nessa contagem regressiva de graça e atribulação, ouço ainda o bater das ondas do mar e, por um instante, sinto o ardume da água salgada em meus olhos.
Ainda sinto queimar a pele com os raios e o calor do sol daqueles dias de verão intenso, mesmo com toda a frieza da vigésima quinta hora, a criatividade me acompanha.
Está decidido!
Não quero nada mais!
Me silencio aos poucos, isso agora é conveniente
As lágrimas cessaram, os respiros já são mais espaçados e vem de dentro da alma, são resquícios mas lembram a espontaneidade da criança inocente que agora vai comigo
Não resisto…
Não duvido…
Nada perdi...
Eu ganhei e mereci o tempo que foi me dado
Eu aproveitei
As partes do que sou se desassociam aos poucos.
Regresso agora sem súplicas, mas o rogo do perdão não dispenso.
Sim, quando eu partir, que seja assim, como um banho de mar com quem mais amei e fui amada.
Que seja um desenlace sutil, como um copo de água fresca que abranda a secura na garganta, já no primeiro gole.
Que seja um dia feliz como foi o da minha chegada e intenso como todos os que vivi.
Lembre-se ainda que jamais será uma despedida, apenas um distanciamento mais (muito mais prolongado).
Sentirei saudades...