Por Alan Caldas – Editor (de Paterna, Espanha)
Quem chega em Paterna, aqui na Espanha, se depara com 50 mil moradores e casas e prédios normais e moderninhos.
Se depara com 4 parques industriais, de onde vem a riqueza. E se depara com comércio e serviços internacionalizados.
A cidade não tem lugares magníficos, como Valência, que fica a 25 km daqui e que na ponta dos pés você quase enxerga suas lindezas.
Paterna é cidade de trabalho. Nada demais, nela.
Mas... não se iluda!
Olhe o passado e verá que Paterna esconde sob seus pés um tesouro que ninguém mais no mundo tem.
É que no passado não distante (até 1994) aqui em Paterna muitos dos moradores viviam literalmente embaixo da terra.
Dá para acreditar?
Vou repetir: algo perto de 40% dos moradores de Paterna, na Espanha, chegou a viver em casas subterrâneas.
Casas construídas em um buraco que se fazia para construir a casa.
Famílias inteiras viviam abaixo da terra.
Não era em casa construída no paredão, por exemplo. Nada. É casa embaixo da terra mesmo. E as chaminés saindo do chão ainda hoje mostram, aqui, como vivia essa parte da população.
O arqueólogo da prefeitura diz que essa técnica é um legado morisco. Os mouros iniciaram esse estilo de construir aqui. E durante um período, quase 40% da população de Paterna morava assim, embaixo da terra.
É incrível, não é? Você não verá isso noutro lugar do mundo. Só em Paterna.
No registro consta que:
– Em 1824 eram 38 casas-caverna.
– Em 1850 eram 200, e ali vivia, naquele ano, 35% da população de Paterna.
– Em 1920 existiam 365 casas-cueva.
– Em 1945 foi o auge: 509 casas abaixo da terra.
Mas o tempo andou. E, a partir de 1950, a modernidade trouxe novas técnicas e materiais, e as “Cuevas” foram sendo abandonadas como moradia.
Em 1994 ainda existiam 106 famílias morando em “Cuevas”.
Hoje, não são mais do que 5 vivendo assim.
Casas-cueva era algo tão “normal” em Paterna, que ninguém achava “grande coisa”.
Então o cineasta espanhol Pedro Almodóvar resolveu contar sua vida no filme Glória e Dor. Ele contratou a linda atriz espanhola Penélope Cruz e aquele ator “não muito bonito”, o Antônio Banderas.
Almodóvar baseou a história do filme na vida de uma família que morava abaixo da terra, aqui em Paterna, num típico e imenso bairro só de casas-cueva. Só de casas abaixo da terra.
Rodaram cenas no local e criaram uma cidade cenográfica ali.
Pronto!
Paterna finalmente se deu conta de que tinha um tesouro sob seus pés.
Imediatamente o poder público começou a recuperar as cuevas. E não permitiu mais sua demolição.
Agora preserva o genial passado que os mouros legaram a esta cidade.
Com a visibilidade internacional que o filme deu para as “Cuevas”, os turistas se alertaram e agora vêm ver algo que é “único” no mundo.
Turista nunca viria a Paterna. Aqui a atração é o trabalho. E trabalho nunca foi atração turística.
Mas Las Cuevas os fisgou. Eles vêm para admirar o passado, as casas embaixo da terra. E todos saem dizendo “uáááu”...
Na primeira foto, como era um dos locais, nos anos 80. Na outra foto, mostro como está hoje através da chaminé, que era, também, o “respiro” das casas embaixo da terra.
Imagine só como era a vida de quem vivia ali...